O Deserto do Real
E O SEMPRE DESEJAR DA SENSAÇÃO
(CONTRA A DITADURA DA FIGURA)
ROTHKO É DEUS QUE SE VISITA ANTES DOS DIAS DA CRIAÇÃO
Rothko, Simon Schama
"A única realidade da vida é a sensação. A única realidade em arte é a consciência da sensação." Fernando Pessoa
“ Como Abel Gance escreveu em “O Tempo da Imagem chegou”: Todas as lendas, toda a mitologia e todos os mitos, todos os fundadores de religião e todas as religiões, todas as grandes figuras da história, todos os reflexos objectivos da imaginação dos povos entre os milénios, todos, tudo, aguardam a sua ressurreição luminosa. Os heróis embatem de encontro às nossas portas para entrar.”Gérard Leblanc in L’utopie Gancienne
“ (...) Abel Gance compara o filme com os hieróglifos. “Cá vemos nós, por um prodigioso recuo, ressurgir o plano de expressão dos Egípcios... A linguagem das imagens não está ainda apurada porque os nossos olhos não estão ainda feitos para elas. Não existe ainda o respeito e culto suficientes para a forma como elas se exprimem” Ou como escreve Séverin-Mars (actor de Gance), “Esta arte tinha um sonho, mais poético e mais real. Considerado assim, o cinamatógrafo tornou-se um meio de expressão absolutamente excepcional, e na sua esfera interior não deveriam actuar senão as personagens da mais superior das poesias, nos recantos mais perfeitos e mais misteriosos do seu percurso.”
L’art cinématographíque 11. Paris, 1927. p. 101 e 102.
DESEJOS DE CLARIVIDÊNCIA
MAIS VISÃO, MAIS IMAGENS
Uma lenda : nas crenças sobre um continente perdido, a Lemúria que existiu na pré-história (trazido à teosofia pelos escritos de Madame Blavatsky, no século XIX) conta-se que, numa versão diferente da evolução humana, teria havido uma raça humana distinta, com esqueleto cartilaginoso e três olhos, sendo o “terceiro olho” hoje correspondente à glândula pineal ou epífise, localizada na zona da testa e relacionada com a estrutura embrionária ocular. Esta glândula em forma de olho concedia aos lemurianos os seus poderes paranormais, e seria um importante centro de energia, relacionado com a paranormalidade. O terceiro olho, ou olho interior, é um conceito esotérico vasto que tem origem na tradição dhármica do Hinduísmo, apesar de vir a ser posteriormente adoptado por outras crenças e religiões. É descrito como uma porta para os recantos mais íntimos do ser, para novas iluminações e percepções, para os espaços de uma consciência mais desperta, capaz de chamar à mente novas imagens – as nunca vistas. Estas, incluem visões, a clarividência (capacidade de distinguir chakras e auras), a pré-cognição ou adivinhação, e experiências de transcendência física. Uma mutação humana, que atravessa a mitologia e a mitografia, incorporando inúmeras metáforas correspondentes no legado do pensamento humano, que acompanham uma demanda maior e mais antiga. No corpo de uma inadequação constante, a insatisfação da experiência humana busca algo de essencial, para lá das fronteiras dos limites ópticos. Esta procura da clarividência é a aproximação a algo que se adianta como mais real – apurando a percepção humana individual (limitada desde que o ser humano toma consciência dos seus limites), com o incremento dos sentidos (o olho interior corresponde ao “sexto sentido”, exteriorizado nesta figuração). Chegámos a outras imagens para esta materialização : desde os óculos de They Live ( John Carpenter) à simbiose absolutamente orgânica no planeta de Avatar (James Cameron), onde os indíduos se metamorfoseiam noutra espécie humanoide que é detentora de uma visão “mais verdadeira” da vida humana – com mais sentidos, maior amplitude de compreensão essencial.
FABULAÇÃO CRIADORA
ARTE, IMAGENS DA MENTE
ARTE, IMAGENS DA MENTE
FIGURAS DE LUZ
IMAGENS, UNIDADES DE ENERGIA
IMAGENS, UNIDADES DE ENERGIA
“Crary (1999) pinça um curioso exemplo da inserção das tecnologias comunicacionais no contexto do final do século XIX: a obra de Thomas Edison. O cinema para Edison, por exemplo, não tinha nenhuma importância em si, mas sim como mais um elemento em um fluxo potencialmente infinito em que um espaço de consumo e circulação (no caso, de imagens) pode ser activado. Assim, filmes, fotografias, sons gravados e outros deviam ser entendidos como partes de um mesmo território abstrato em que unidades de energia circulavam de modo indiferenciado” Ieda Tucherman, in “O Corpo Transparente”
- Camilla d'Errico
- Marina Nunez - Locura, 2006
- The Tree of Life (2011, Terrence Malick) ; Samadhi (1967, Jordan Belson) - a partir do post de Luis Mendonça
- Prisma de Newton (A sua teoria das cores foi apresentada em 1672)
- Marina Nunez - Locura, 2006
- The Tree of Life (2011, Terrence Malick) ; Samadhi (1967, Jordan Belson) - a partir do post de Luis Mendonça
- Prisma de Newton (A sua teoria das cores foi apresentada em 1672)
Maria Filomena Molder sobre Tree of Life
“Chama-se precisamente percepção à imagem reflectida por uma imagem viva. (...) a imagem especial, a imagem viva, é indissoluvelmente centro de indeterminação e ecrã negro.” Deleuze, em “A Imagem-Movimento”
VIDA : A CONSTITUIÇÃO LUMINOSA/ ILUMINADORA
DAS IMAGENS
Em óptica, um prisma é o elemento óptico transparente, tipicamente de vidro, com superfícies polidas e rectas que refractam a luz, separando as cores do espectro que a constituem (as cores do arco-íris – no caso deste são as gotículas de água que desempenham a função refractária do prisma). A decomposição da luz, descoberta de Isaac Newton, assim provou que a cor não é um fenómeno físico, na medida em que o mesmo comprimento de onda pode ser percebido diferentemente por pessoas distintas (incluindo outros seres vivos), ou seja, cor é um fenómeno fisiológico, de carácter subjectivo e individual. “Na imagem-movimento ainda não há corpos ou linhas rígidas, nada senão linhas ou figuras de luz. Os blocos de espaço-tempo são essas figuras. (...) Conjunto de imagens-movimento; colecção de séries ou figuras de luz.” Assim descreve Deleuze a imagem cinematográfica (bloco de tempo e movimento).
O negro primordial da caverna de Platão é um lugar de pré-nascimento da mente humana nas possibilidades do seu esclarecimento - o gesto de passar à claridade (iluminação) através do raciocínio, metáfora iluminista, corresponde ao da formação da imagem na película impressionada por feixes de luz que a atravessam com intensidades específicas, a fim de aí trazer uma nova claridade - uma imagem.
LIVRO DOS MORTOS
PARA VOLTAR À LUZ
"Livro dos mortos" é a denominação moderna do antigo nome egípcio "Livro de Sair para a Luz". Designa uma colectânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações e hinos e litanias, do Antigo Egipto, escritos em rolos de papiro e colocados nos túmulos funerários, junto das múmias, para auxiliar o morto na sua viagem para o Além, afastando os eventuais perigos que pelo caminho surgissem. Um livro alicerçado em ideais de verdade e de justiça, supostamente o primeiro conhecido a sublinhar como a conduta moral na terra era a condição de julgamento no Além - diante da deusa Maat, não valeriam os bens ou a posição social do falecido. Fortemente religiosos, os egípcios consideravam os textos a obra do deus Thoth, e denominavam estes textos (acessíveis a todos os extractos sociais, porque reproduzidos em materiais de baixo custo) de Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru).
VIDA : MOVIMENTO DOS OLHOS
A palavra Samadhi (de acordo com o hinduísmo) corresponde à absorção da consciência individual à hora da própria morte - correspondendo ao ciclo da vida um ciclo da visão; não há cores sem luz, mas só existe percepção óptica dessas cores porque há seres vivos - humanos ou animais – aptos a essa tarefa. Se em The Tree of Life, esta imagem das cores em expansão simboliza o nascimento – nascer em direcção a uma vida que é radiância (a vida é iluminação, é a progressiva acumulação de imagens e estas são composições de cores em variação visível), em Samadhi, o último instante na vida é a hora da morte que assinala o derradeiro fechar dos olhos (o fechar das imagens, das memórias, o voltar ao negro, à ausência de luz e de cor.)
O negro primordial da caverna de Platão é um lugar de pré-nascimento da mente humana nas possibilidades do seu esclarecimento - o gesto de passar à claridade (iluminação) através do raciocínio, metáfora iluminista, corresponde ao da formação da imagem na película impressionada por feixes de luz que a atravessam com intensidades específicas, a fim de aí trazer uma nova claridade - uma imagem.
LIVRO DOS MORTOS
PARA VOLTAR À LUZ
"Livro dos mortos" é a denominação moderna do antigo nome egípcio "Livro de Sair para a Luz". Designa uma colectânea de feitiços, fórmulas mágicas, orações e hinos e litanias, do Antigo Egipto, escritos em rolos de papiro e colocados nos túmulos funerários, junto das múmias, para auxiliar o morto na sua viagem para o Além, afastando os eventuais perigos que pelo caminho surgissem. Um livro alicerçado em ideais de verdade e de justiça, supostamente o primeiro conhecido a sublinhar como a conduta moral na terra era a condição de julgamento no Além - diante da deusa Maat, não valeriam os bens ou a posição social do falecido. Fortemente religiosos, os egípcios consideravam os textos a obra do deus Thoth, e denominavam estes textos (acessíveis a todos os extractos sociais, porque reproduzidos em materiais de baixo custo) de Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru).
VIDA : MOVIMENTO DOS OLHOS
A palavra Samadhi (de acordo com o hinduísmo) corresponde à absorção da consciência individual à hora da própria morte - correspondendo ao ciclo da vida um ciclo da visão; não há cores sem luz, mas só existe percepção óptica dessas cores porque há seres vivos - humanos ou animais – aptos a essa tarefa. Se em The Tree of Life, esta imagem das cores em expansão simboliza o nascimento – nascer em direcção a uma vida que é radiância (a vida é iluminação, é a progressiva acumulação de imagens e estas são composições de cores em variação visível), em Samadhi, o último instante na vida é a hora da morte que assinala o derradeiro fechar dos olhos (o fechar das imagens, das memórias, o voltar ao negro, à ausência de luz e de cor.)
“Segundo Heidegger, o Mito da Caverna, aparentemente, refere-se à educação, em vez de sugerir alegoricamente doutrina da Verdade. O homem tem de se esforçar para atingir vários níveis de uma ascensão se pretender libertar-se do quotidiano – da caverna sombria – para atingir a luz do céu aberto.” Fernando Coelho Cintra no ensaio “Em busca do ser metafísico”
World on Wire, Fassbinder
Minority Report, Spielberg
2001 Odisseia no Espaço, S. Kubrick
QUE IMAGENS VEREMOS DEPOIS DA MORTE ?
QUE IMAGENS VEREMOS DEPOIS DA MORTE ?