''A natureza em tempestuosa agitação, incerta luz entre as nuvens de furacão, negras e ameaçadoras, rochas desleais, nuas e perigosas que tapam a vista com o seu volume; águas cachoantes e espumantes por todo o deserto e gemidos do vento que sopra nas nossas gargantas. A nossa insuficiência, a nossa luta, com a natureza inimiga, a nossa vontade despedaçada manifestam-se a nós intuitivamente. Mas, enquanto a angústia pessoal não predominar, enquanto persistirmos na contemplação estética, é o puro sujeito do conhecimento que olha através daquela luta da natureza.
(...)
Mas mais poderosa ainda é a impressão, quando a batalha dos elementos desencadeados assume grandes proporções diante dos nossos olhos (...) quando nos encontramos diante de um vasto mar em borrasca; ondas da altura de prédios sobem e descem, batem impetuosas contra a penedia, lançam ao céu as suas espumas; a tempestade brame, o mar ruge, raios coriscam das nuvens negras e o ribombar do trovão vence o bramido da tempestade e do mar. Perante esta cena, o espectador imperturbado adquire o conhecimento máximo do carácter duplo da sua consciência: sente-se como indivíduo, como lábil manifestação da vontade (...) e, simultaneamente, percebe-se como sujeito mortal, sereno do conhecer. ''
Arthur Schopenhauer, O mundo como vontade e representação, III, 39 (1818)
Bruce Baillie – To Parsifal (1963)