SOBRE-HUMANOS
Se é tremendo o impacto das figuras que o ecrã nos traz em grande escala da sala de cinema, se os seus rostos pairam em close-up como grandes aparições saídas do negro, que sentido há a fazer das ainda mais gigantescas representações à imagem humana que povoam o cinema com estátuas colossais? É imediato o desconforto, perante a grandiosidade paralítica destes simulacros, sempre denúncia de sobresforço humano, capazes de nos largar entre a estranheza e a dúvida... Quem são as excepcionais personalidades atrás das figuras que se destacam? Ou, porque se constituem como arquétipos? Ou, porque razão foram erguidas? Se tantas vezes em representação de princípios de perfeição e harmonia, não serão irremediavelmente mais horripilantes do que belas estas esculturas colossais, nos seus rostos gigantes, petrificados, estáticos, amputados, na sua fundação anti-humana de inquietante eternidade marmórea?
SE A PEDRA TEM A VOCAÇÃO CONSERVADORA DO PODER...
Sendo tantas vezes representações de figuras de poder, cujo sentido depende intimamente do propósito de serem exaltadas, é por via de um tão censurável culto do humano à sua própria figura que havemos, quase sem excepção, de descobrir na ostensiva megalomania de cada uma destas estátuas o prenúncio de uma condenação moral. Vimo-lo em The Scarlet Empress, Metropolis, ou L'Atlantide, enredos de impérios figurativos caídos pela corrupção do poder.
Se a história do cavalo de Tróia conta a história do fim dos Troianos, incautos na vaidade de possuírem a bela escultura, no evangelho do Livro de Daniel a parábola da estátua de ouro do rei Nebuchadnezzar denuncia esta forma de figuração como uma idolatria pagã - e por isso, condenável. (E este é um dos temas mais centrais da representação iconográfica: como representar um deus com contornos humanos? E sobretudo: como representar um mero humano da mesma técnica e forma com que se representam os deuses?)
Mas não só a história dos povos guardará para sempre os relatos das suas grandes estátuas há muito desaparecidas - tal como o Colosso de Rodes, emblema do poder da Grécia, construído entre 292 a.C. e 280 a.C e derrubado por um terramoto - como serão sempre símbolos de uma mudança de paradigma no poder: a queda da estátua de Saddam Hussein é o primeiro sinal do fim da batalha em Bagdade (2003), as várias estátuas de Estaline espalhadas pelo mundo soviético caem desde os anos cinquenta até aos dias de hoje, e a chegada da democracia ao Chile tem como substituição da estátua de Pinochet pela de Allende em frente a La Moneda.
The Scarlet Empress (Sternberg, 1934)
Colossus of Rhodes (Sergio Leone, 1961)
Mahler (Ken Russell , 1974)
Ken Russell,
Ken Russell,
Last Days of Pompeii (Ernest B. Schoedsack, Merian C. Cooper, 1935)
O Olhar de Ulysses, Theo Angelopoulos, 2012
Metropolis, Fritz Lang, 1927
L’Atlantide (G.W. Pabst, 1932)
Amarcord (Fellini, 1973)
Clockwork Orange (Kubrick, 1971)
Sans Toit Ni Loi, Agnes Varda, 1985
Angel, (Rudy Burckhardt e Joseph Cornell, 1957)
L'étrange Madame X (Jean Grémillon, 1951)
City Lights (Charlie Chaplin, 1931)
The Fearmakers (Tourneur, 1958)
La Dolce Vita (Federico Fellini, 1960)
Twin Peaks (2017, David Lynch)
Andalucia (Alain Gomis, 2003)
La rose de fer (Jean Rollin, 1973)
The Indian Tomb (Fritz Lang, 1959)
North by Northwest, Hitchcock, 1959
Pandora and the flying dutchman (Albert Lewin , 1951)
Parsifal (H.-J. Syberberg, 1982)
Lucifer Rising (Kenneth Anger. 1972 )
Erotikon (Mauritz Stiller, 1920)
Avant Petalos Grillados (Cesar Velazco Broca, 2006)
The Talented Mr. Ripley (Anthony Minghella, 1999)
Wings of Desire (Wim Winders, 1986)
8 1/2 (Fellini, 1963)
The tales of Hoffmann (Powell + Pressburger, 1951)
Pandora and the Flying Dutchman (Albert Lewin, 1951)
Le Mépris (JL Godard, 1963)
Dr. Jekyll and Mr Hyde (R. Mamoulian, 1931)
You and Me (Fritz Lang, 1938)
Two Weeks in Another Town (Vincente Minelli, 1962)
Film d'amore e d'anarchia (Lina Wertmüller, 1973)
La Dixiéme Symphonie (Abel Gance, 1918)
Mikael (Carl T. Dreyer, 1924)
Fräulein Else (Paul Czinner, 1929)
My way home (Miklos Jancso, 1965)
Cat People (Tourneur, 1942)
Blood of a poet (Cocteau, 1932)
Lucifer Rising (Kenneth Anger. 1972 )
L'opéra de quat'sous (Pabst, 1931)
Querença (José Edgar Feldman, 2004)
Roman Holiday (William Wyler, 1953)
Le Rayon Vert (Rohmer, 1986)
Une Histoire de Vent (Joris Ivens, 1988)
Favourites of the moon (Iosseliani, 1984)
Profondo rosso (Dario Argento, 1975)
Shadows (Cassavetes, 1959)
Queen of the Desert (Herzog, 2015)
The Steel Helmet (Sam Fuller, 1951)
El artista y la modelo (Fernando Trueba, 2012)
Sweet Movie (Dusan Makavejev , 1974)
The Exorcist, William Friedkin, 1976
How to Marry a Millionaire (Jean Negulesco, 1953)
The Bandwagon (Vincente Minelli, 1953)
Hitler, ein Film aus Deutschland (H.-J- Syberberg, 1977)
Das Frauenhaus (Jess Franco, 1977)
La Guerre d'un Seul Homme (Edgardo Cozarinsky, 1982)
I am Twenty (Marlen Khutsiyev, 1964)
LA RÈGLE DU JEU (Jean Renoir, 1939)
Pandora’s Box (Pabst, 1929)
A Pousada das Chagas (Paulo Rocha, 1972)
Centro Historico, Manoel de Oliveira (2013)
Macumba Sexual (Jess Franco, 1983)
Nightmares Come at Night (Jess Franco, 1970)
Le Trésor des îles chiennes, (F. J. Ossang, 1991)
Black Cat (Ulmer, 1934)
Guess Who's Coming to Dinner (Stanley Kramer, 1967)
Ne touchez pas la hache (Rivette, 2007)
Nightmares Come at Night (1970, Jess Franco)
Les Mains Négatives (Marguerite Duras, 1958)
Ceux de Chez Nous (Sacha Guitry, 1952)
Donne-moi tes yeux (Sacha Guitry, 1943)
| Song of Love (Clarence Brown, 1947) MGM |
Written on the Wind (Douglas Sirk, 1956)
Has Anybody Seen My Gal? (Douglas Sirk, 1952)
Scarface (Brian de Palma, 1983)
LA RÈGLE DU JEU (Jean Renoir, 1939)
Donne-moi tes yeux (Sacha Guitry, 1943)
Mon Père Avait Raison (Sacha Guitry, 1936)
Le Destin Fabuleux de Desirée Clairy (Sacha Guitry, 1937)
DÉSIRÉ (SACHA GUITRY, 1937)
REMONTONS LES CHAMPS-ELYSÉES (Sacha Guitry, 1939)
LE COMÉDIEN (Sacha Guitry, 1948)
Godfather III (Francis Ford Coppola, 1991)
Gospod postoi, imeto i’e Petrunija ( Teona Strugar Mitevska, 2019)
Song of Songs (Mamoulian, 1933)
Lo Sguardo di Michelangelo by M. Antonioni
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