“De pé sobre o chão nu - a minha cabeça banhada pelo ar alegre e elevado para espaços infinitos -, todo o egotismo mesquinho se desvanece. Torno-me um globo ocular transparente; não sou nada; vejo tudo; as correntes do Ser Universal circulam através de mim; sou parte ou parcela de Deus” - Emerson, Nature, 1836.
''a minha cabeça banhada pelo ar alegre e elevado para espaços infinitos '
terça-feira, 5 de novembro de 2024
''Esta encarnação sugere que há outras encarnações''
sábado, 24 de agosto de 2024
life
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
“We come from a dark abyss, we end in a dark abyss, and we call the luminous interval life.”
― Nikos KazantzakisThe sky!
Each life converges to some centre
Expressed or still;
Exists in every human nature
A goal,
Admitted scarcely to itself, it may be,
Too fair
For credibility’s temerity
To dare.
Adored with caution, as a brittle heaven,
To reach
Were hopeless as the rainbow’s raiment
To touch,
Yet persevered toward, surer for the distance;
How high
Unto the saints’ slow diligence
The sky!
Ungained, it may be, by a life’s low venture,
But then,
Eternity enables the endeavoring
Again.
''Ninguém vive a sua morte''
sexta-feira, 28 de junho de 2024
"Ninguém pode dizer que a morte não assuste. Mas, curiosamente, com o tempo a morte vai ser aceite, não só como inevitável mas pode adquirir... mudar de signo, mudar de sinal, se essa morte é a morte do outro. Ninguém vive a sua morte. A nossa morte não é vivida. É sempre qualquer coisa que nos é imposta, em absoluto, de fora para dentro. A morte do outro, essa é a nossa morte."
EDUARDO LOURENÇO
in Podcast "A Beleza das Pequenas Coisas", Expresso, 2016
This is the way the world ends (The Hollow Men by T.S. Eliot)
domingo, 9 de junho de 2024
The Hollow Men
A penny for the Old Guy
I
We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar
Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;
Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us-if at all-not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.
II
Eyes I dare not meet in dreams
In death's dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind's singing
More distant and more solemn
Than a fading star.
Let me be no nearer
In death's dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat's coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer-
Not that final meeting
In the twilight kingdom
III
This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man's hand
Under the twinkle of a fading star.
Is it like this
In death's other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.
IV
The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river
Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death's twilight kingdom
The hope only
Of empty men.
V
Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o'clock in the morning.
Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
For Thine is
Life is
For Thine is the
This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.
e tudo isto ser a imaginação de um deus?
quinta-feira, 25 de abril de 2024
"If you find God, you get to keep him."
VALIS, Philip K. Dick
"Heaven heard my thoughts and wrote them down."
VALIS, Philip K. Dick
hoje / o mar caiu
quarta-feira, 24 de abril de 2024
a soleira da porta e o chuveiro ambos chovem
minha gata, escondida, gira de um lado a outro como se a vida fosse isso o pé de pitangueira toma um banho o pé de noni, as cenouras, abobrinhas e o cará também naufragam entre as formigas são três da tarde e é como se fosse ontem como se a vida de um lado a outro buscasse pouso não precisei ir à praia hoje o mar caiu
''Não é domingo. Mas sempre há uma pequena esperança de que o segundo seguinte seja o início de algo, ou o reinício de tudo.'' Leandro Durazzo
há uma finíssima camada de mundo
entre todos os mundos uma membrana que nos liga e nos separa uma estrada subterrâneos mar e ar por onde os guardiães nos guardam em todo silêncio fundo há um grito que espreita e em toda ciência, a suspeita não há separação senão aquela que junta um momento a outro de revê-la
''Um intervalo entre não-ser e ser'' Pessoa
domingo, 14 de abril de 2024
Porque a morte nunca existiu
domingo, 7 de abril de 2024
Tudo o que for vivente tem / Uma queixa que o percorre /
E quando um dia a vida morre / A morte morre também /
Essa já não mata ninguém / Onde nasceu se sumiu /
P’ra esse corpo serviu / Ali fez as contas do povo /
Não vai de um p’ra outro corpo / Porque a morte nunca existiu
(poema do poeta popular António Joaquim Lança
musicado e cantado por José Mário Branco no álbum Margem de Certa Maneira)
Rios, rios
domingo, 18 de fevereiro de 2024
“Espaço, espaço - grande igualdade
O sol, o sol - grande lucidez primordial
Rios, rios - o fluxo ininterrupto
Arcos-íris- grande beatitude em si mesma livre”
~ Uma canção de Nairátmyá, incarnada ausência de eu
via Paulo Borges
“vagar, perder-se”
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024
‘'O mundo define-se, antes de mais nada, pelo facto de ser um planeta, isto é, um corpo, ou melhor, um conjunto de corpos caracterizados por um movimento irregular e quase perpétuo: a palavra planeta provém da raiz grega planaomai, que significa “vagar, perder-se”. O mundo é o ser da metamorfose (…) a causa, a forma, a matéria da própria metamorfose e do seu movimento.’’ Emanuele Coccia
de forma em forma
Donna Backues - Volcano by the Sea 2020
Acrylic & Ink on Stretched Canvas 30 X 30
“Todos os viventes são, de um certo modo, um mesmo corpo, uma mesma vida e um mesmo eu que continua a passar de forma em forma, de sujeito em sujeito, de existência em existência”
Emanuele COCCIA, Métamorphoses
''da vida que nunca vai encontrar cura e razão para ela própria''
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
não bastasse a humilhação pública de morrer
espera-se do corpo que cumpra com indiscutível
pompa o intolerável protocolo de ausentar-se
a penosa execução circular e noturna do velório
a presença inconveniente dos agentes funerários
os adereços lutuosos a obscena maquiagem
no dia seguinte, o inventário das orações, a concisa
cerimônia (não há muito a dizer, sejamos honestos
e soa até a insulto que se pronuncie o nome de
Lázaro) o caixão é fechado, o dia põe-se bonito
– é quase tão imoral como alguém ter trazido uma
gravata com motivos facetos, uma camisa florida –
depois, em casa, parece que as vozes ressoam como numa
sala a que tivessem subtraído os móveis e houvesse, por isso
a estranheza de uma extensão desprovida, dissemelhante
o avô vai buscar as memórias da infância (por que
razão obscura omite ele as lembranças de casado?) há
na sua voz qualquer coisa de paciente melancolia
como se aceitasse, com constrangedora submissão, que
o tempo não se detenha nunca, que os anos nos empurrem
para um buraco na terra, nos sujeitem a tão bruta descortesia
a prontidão da morte, a ligeireza do tempo, a estupidez
da vida que nunca vai encontrar cura e razão para ela própria
contra tudo isso eu alardeio o poema, antecipo a derrota
Being alive
domingo, 14 de janeiro de 2024
''Nada se sabe. Tudo se imagina.'' Fernando Pessoa
''Magia é domínio da energia.'' José Medeiros
''O possível não compreende apenas os sonhos dos neurasténicos, mas também os desígnios de Deus ainda adormecidos.'' Robert Musil
''O meu objectivo é falar de corpos que se transformaram em formas de outro tipo.'' Ovídio
... a natureza expansiva da Vida ...
quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
“a liberação da mente de sua consciência finita, tornando-se una e identificada com o infinito”
Plotino, Enéadas
''Volta o teu olhar para ti mesmo e olha. Se ainda não vires a beleza em ti, faz como o escultor de uma estátua que tem que ser tornada bela. Ela talha aqui, lixa ali, lustra acolá, torna um traço mais fino, outro mais definido, até dar à sua estátua uma bela face... até que o esplendor divino da virtude se manifeste em ti, até que vejas a disciplina moral estabelecida num trono santo.''
Plotino
‘Deus andava no jardim à brisa do dia’
“E quem seria tão infantil a ponto de acreditar que Deus, como se fosse um jardineiro [com forma humana], ‘plantou um jardim no Éden, para os lados do Oriente’[Gênesis II: 8], e formou ali uma ‘árvore da vida’ visível e palpável.[...] e novamente de que alguém pudesse participar do ‘bem e do mal’ mastigando o fruto da árvore de mesmo nome? Se dizem que ‘Deus andava no jardim à brisa do dia’ [Gênesis II: 8] e que Adão se escondia atrás de uma árvore, imagino que ninguém há de duvidar que estas sejam expressões figuradas que indicam certos mistérios através de semelhante história, e não de fatos reais.[...] E o leitor cuidadoso detectará incontáveis casos de outras passagens como estas nos Evangelhos, das quais poderá aprender que entre aquelas narrativas que parecem ter sido relembradas literalmente estão inseridas e entrelaçadas outras que não podem ser aceitas como históricas, mas que contêm um significado espiritual.”
ORIGEN de ALEXANDRIA
[De Principiis IV, 3, 1]
Mahā-Mādhyamaka = a matriz, o útero materno de tudo quanto-foi-é-e-será
“Vimos da Divindade e para ela havemos de ir”
Santo Agostinho
Neófito, não há morte.
Fernando Pessoa
INICIAÇÃO
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo. . . . . . .
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais. . . . . . .
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes. . . . . . .
Neófito, não há morte.